Três meses em Buenos Aires (novamente)
Como
fiz há dois anos, passei três agradáveis meses na capital da Argentina.
Terra de Borges e Cortázar, de Gardel e Piazzolla, de Maradona e Messi.
Meu plano era relaxar, e foi exatamente o que fiz.
Há sempre uma guerra entre dois monstrinhos dentro de mim. Eu
invariavelmente quero visitar aquelas ruínas fora da cidade, ou saltar
de museu em museu no mesmo dia, ou caminhar dez quilômetros fotografando
novas paisagens. Esse é meu primeiro monstro: curiosidade. Mas ao mesmo
tempo eu não quero fazer nada disso, preferindo ficar atirado num bom
sofá lendo um livro, ou na frente da tv tomando vinho, ou simplesmente
jogando no computador. Esse é o meu segundo monstro: preguiça. Durante
estes meus anos de nomadismo, tenho deixado a curiosidade vencer quase
todas as batalhas. Mas neste verão em Buenos Aires, a preguiça esteve no
controle.
No meu confortável apartamento no bairro Palermo, li quatorze livros
(J.L. Borges de novo, Philip K. Dick, Samuel Beckett, Julian Barnes, Han
Kang, e um punhado de autores chineses), assisti muitas horas de séries
de tv (incluindo todas as oito temporadas de House MD, mais uma vez), e joguei novamente o velho RPG Darklands.
Também fiz dois cursos de literatura no Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (MALBA). O primeiro foi Literatura China del Siglo XX,
onde aprendi sobre vários autores de quem nunca tinha ouvido falar (Lu
Xun, Ba Jin, Ding Ling, Wang Meng, Wang Xiaobo, Can Xue, entre outros) e
dois que já tinha (Gao Xingjian e Mo Yan, ambos vencedores do Nobel
Prize). O segundo foi Las Trampas de la Memoria, conectando a obra de J.L. Borges com autores como Philip K. Dick, Samuel Beckett, e Julian Barnes).
Sim, isto é o que eu considero um período relaxante.
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