|
Agosto 2024
|
|
Prólogo: Uma noite em Beograd
A
distância entre Sarajevo e Tirana é só 300 km, mas não há voo direto
entre uma e outra. A rota aérea mais curta é ir a Beograd, passar a
noite lá, e seguir para Tirana no dia seguinte. Foi o que eu fiz, e
aproveitei a oportunidade para jantar num dos meus restaurantes
preferidos na cidade, o Mihailo. Depois da falta de entusiasmo
gastronômico em Sarajevo, o goulash que eu comi em Beograd foi uma
experiência transcendente. Goulash é na verdade um prato da Hungria
(eles chamam de gulyás) mas extremamente popular na Sérvia (eles chamam
de gulaš): um cozido feito com vitela, cebolas, e um monte de paprika.
Sublime.
|
|
|
Goulash
|
|
Um mês em Tirana
Tirana
é um lugar agradável. Recuperada da ditadura que tornou a vida na
Albânia miserável desde o fim da Segunda Grande Guerra até o início dos
anos noventa, depois da democratização a cidade passou por uma renovação
urbana extensa, modernizou a infraestrutura, restaurou locais
históricos, e criou espaços públicos vibrantes. A liberalização
econômica atraiu investimento estrangeiro, e a abertura cultural trouxe
influências internacionais, transformando Tirana numa cidade dinâmica
com arquitetura variada e uma atitude acolhedora a turistas.
Eu aluguei um apartamento simpático na Rruga Luigj Gurakuqi, uma rua que
liga o bairro Pazari i Ri (Novo Bazaar), uma das áreas mais antigas de
Tirana, ao Sheshi Skënderbej (Praça Skanderbeg), o centro da cidade. Em
menos de cinco minutos posso caminhar a mercados, restaurantes, shopping
centers, e vários locais históricos.
Não há muitos museus por aqui, principalmente porque os dois maiores, o
Museu Histórico Nacional e a Galeria Nacional das Artes, estão fechados
para renovação há muito tempo. Visitei o Museu Nacional de Arqueologia
(com os habituais artefatos da pré-história até o Império Romano), a
Casa das Folhas (antigo quartel-general da Sigurimi, a odiada polícia
secreta da ditadura, e hoje o Museu da Vigilância Secreta), o Museu
Bunk'art (sobre o período da ditadura e situado dentro do bunker do
ditador Enver Hoxha), e a Pirâmide de Tirana (originalmente um museu
sobre o Enver Hoxha e agora um centro de tecnologia para a juventude).
Também fui à Tirana Art Gallery para uma exposição do Andy Warhol e ao
Centro de Abertura e Diálogo para uma exposição de fotos da Albânia
durante a ditadura feitas por fotógrafos da Magnum.
|
|
|
Museu Histórico Nacional
|
|
|
Cerâmica albanesa
|
|
E a comida?
O principal prato tradicional da Albânia é o tave kosi (ovelha e arroz
assados com uma mistura de iogurte e ovos). Delicioso. Tem também o
japrak (folhas de espinafre recheadas com arroz, vitela, azeite de
oliva, cebolinha, menta, e servido com iogurte), o qofte shtepie me
djathe (almôndegas recheadas com queijo), o peskavica (mistura de porco,
vitela, e ovelha, tudo moído e misturado numa coisa que parece um
salsichão aberto), e o meu favorito, o fergesë (uma pasta feita com
tomates, cebolas, pimentões, queijo feta, e alho).
A Albânia vem produzindo vinhos desde a Idde do Bronze, e tem algumas
variedades de uva locais. Eu provei o Shesh (encorpado, forte em
taninos, meu tipo de vinho) e o Kallmet (taninos mais suaves e um pouco
de acidez).
|
|
|
Tave kosi
|
|
|
Japrak
|
|
|
Fergesë
|
|
E os passeios?
Visitei Durrës, que é a praia mais próxima de Tirana e também a segunda
maior cidade do país. Fundada por colonos gregos por volta de 600 BCE
com o nome de Epidamnos, passou a se chamar Dyrrachium depois de
conquistada pelos romanos, Durazzo sob controle dos venezianos, Dirac
quando se tornou parte do Império Otomano, e finalmente Durrës. Podemos
ver toda essa história no que resta da arquitetura antiga, incluindo os
Banhos Romanos (escondidos embaixo do teatro local), o Fórum Bizantino, o
Anfiteatro Romano, e a Torre Veneziana.
|
|
|
Torre Veneziana
|
|
Também fui a Berat, uma cidade muito menor
ao sul de Tirana, com uma arquitetura peculiar que lhe deu o nome de
Cidade das Mil Janelas. A atração principal é o Castelo de Berat no alto
da montanha. Foi construído pelos romanos e depois reconstruído pelos
imperadores bizantinos Theodosius II (século 5) e Justiniano I (século
6). No século 13 foram construídas casas dentro das fortificações, e
hoje algumas famílias ainda vivem lá.
|
|
|
Berat
|
|
|
Berat vista do alto do castelo
|
|
Um dia em Montenegro
O vizinho da Albânia ao norte é Montenegro. Eu estava curioso e a
fronteira não fica muito longe, então fui passar um dia por lá.
Primeiro fui a Sveti Stefan. Originalmente era uma ilha, mas depois foi
ligada ao continente por um istmo artificial. Agora é um hotel resort,
que está fechado desde a pandemia de COVID-19, mas a praia e a paisagem
ainda atraem muita gente.
|
|
|
Sveti Stefan
|
|
Depois fui a Budva. É uma dos assentamentos
mais antigos na costa do Mar Adriático (já havia gente morando lá há
mais de dois mil anos), mas hoje é uma cidade de veraneio cheia de
hotéis e restaurantes. Almocei lá, e provei a tradicional buzara. É um
molho feito com azeite de oliva, vinho, alho, tomate, e ervas, usado
para cozinhar frutos do mar. Comi škampi na buzara (cozido de camarão),
que estava delicioso. E almoçar bem ali na beira do Mar Adriático fez a
experiência ainda melhor.
|
|
|
Škampi na buzara
|
|
Por último fui a Kotor. É um porto
fortificado na Baía de Kotor, do tempo que os venezianos controlavam a
região (do início do século 15 ao final do século 18). Lugar encantador
cercado de paisagens espantosas.
|
|
|
Kotor
|
|
E agora?
Minha
próxima parada será em London, mas só por dez dias. De lá vou para New
Orleans, um dos meus lugares preferidos nos EUA. Mas esta é uma história
para outra hora.
Cheerio! (É uma das formas de dizer "tchau" na Inglaterra.)
|
|
|
|