Julho 2024

Um mês em Sarajevo

Minha passagem pela Bósnia e Herzegovina foi planejada como um período de descanso, depois da montanha-russa de máquinas pifadas e contas bancárias bloqueadas, e depois do redemoinho de opções culturais na Catalunha. Sarajevo é uma cidade calma. Aluguei um apartamento bacaninha no bairro chamado Bistrik. Do outro lado do rio Miljacka, que fica a duas quadras do meu prédio, é a parte antiga da cidade, cheia de mesquitas, pequenos restaurantes, lojinhas, e, claro, turistas. Onde eu moro não há turistas, provavelmente porque eles não querem subir a ladeira.

O clima aqui é complicado. No meio do verão, não me surpreendi com os 33°C por volta do meio-dia. O que eu não estava esperando foi a queda para 13°C logo que o sol baixou, com um ventinho tinhoso vindo das montanhas. Tem sido assim quase todo o tempo, alguns dias chegando perto dos 40°C, mas vez por outra vem aquela abrupta queda de temperatura e é preciso estar preparado. Eu não estava, e fiquei doente logo na primeira semana. Uma tosse insistente que durou quase o mês inteiro e me fez ficar em casa por vários dias me recuperando. Então, eu queria descansar, e acabei descansando mais que esperava.

Ponte Sehercehaja
Vijećnica (Prefeitura)
Visitei os museus locais, claro. O National Museum of Bosnia and Herzegovina tem uma coleção de artefatos históricos que vai do Paleolítico ao Império Romano, e também um pavilhão cheio de animais embalsamados. A National Gallery of Bosnia and Herzegovina é o museu de arte local, onde a estrela parece ser o  artista bósnio Karlo Mijić, em atividade principalmente na primeira metade do século 20.

Os outros museus são todos sobre guerra. O Sarajevo Museum 1878–1918 fica no edifício em frente ao local onde o Arquiduque Franz Ferdinand da Áustria foi assassinado, criando a desculpa para o início da Primeira Grande Guerra. O museu é sobre esse episódio, mas é só uma sala (e nem mesmo uma sala grande) com alguns objetos relacionados. O History Museum of Bosnia and Herzegovina tem algumas exposições sobre o Cerco de Sarajevo (1992 a 1996). O Museum of Crimes Against Humanity and Genocide, o War Childhood Museum, e a Galerija 11/07/95 são também sobre a Guerra da Bósnia. E nem é preciso ir a um museu para ver sinais dessa guerra. Uma das coisas mais tristes por aqui são as Rosas de Sarajevo, locais onde um morteiro explodiu e matou gente, agora preenchidos com resina vermelha para marcar o acontecimento.
Rosa de Sarajevo
Quadro do Karlo Mijić

E a comida?


Fiquei um pouco decepcionado com a comida aqui. É basicamente a mesma cozinha de outros países da ex-Yugoslavia, mas com muito menos variedade. Temos o ćevapi (canudos de carne moída grelhada), servido com kajmak (queijo branco cremoso) e cebolas picadas, que é muito bom mas não uma coisa para comer todos os dias. Temos a salada shopska (que na verdade é da Bulgaria mas muito popular por aqui). E é isto que a maior parte dos restaurantes oferece como pratos locais. A opção é o que eles chamam de cozinha internacional: pasta, pizza, burgers, etc. Disseram-me que no inverno os restaurantes servem outras coisas, principalmente ensopados, mas no verão é só o básico.
Ćevapi

E os passeios?


Visitei Mostar, que parece linda nas fotos mas quando você chega lá não é bem assim. Mais um lugar destruído pelo turismo em massa, sobrecarregado de gente fazendo selfies e lojinhas vendendo bolsas falsas da Louis Vuitton e camisetas da Frida Kahlo (ela era mexicana, por que eu iria até a Bósnia para botar a cara dela na minha camisa?). Ainda podemos ver a ponte magnífica que Mostar tinha (agora é uma réplica, a original foi bombardeada pelos croatas durante a guerra), mas o lugar agora é uma armadilha para turistas. A melhor coisa que fiz em Mostar foi comer umas trutas do rio Neretva no almoço, estavam deliciosas.
Mostar
Trutas do Rio Neretva
No caminho de ida e de volta, parei em alguns outros lugares. Konjic tinha uma ponte interessante. Blagaj é onde construíram um monastério na nascente do rio Buna. Počitelj tem uma fortaleza começada no século 15 e, se você não tem sapatos confiáveis, subir aqueles degraus traiçoeiros pode ser a última coisa que vai fazer. Jablanica tem um lago artificial imenso criado nos anos 50 para ativar uma usina hidroelétrica.
Blagaj
Počitelj
Jablanica

E agora?

Na próxima semana vou para Tirana, capital da Albânia. Mas esta é uma história para outra hora. Gëzuar! (Isto é "Saúde!" em albanês.)

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