Setembro 2023

Seis semanas em Beograd

Beograd, capital da Sérvia, é uma cidade bonita. Especialmente onde estou morando, na confluência do Rio Danúbio com o Rio Sava. Bem em frente ao meu edifício, está o Kalemegdan, o maior parque da cidade. Dentro do parque, com vista para os dois rios, fica a Fortaleza de Beograd, originalmente construída em 279 BCE pelos celtas que viviam aqui. Foi reconstruída e aumentada em 535 pelo imperador romano Justiniano I, e aumentada novamente em 1403 pelo príncipe sérvio Stefan Lazarević. Hoje, é um parque encantador repleto de árvores, que eu vejo das minhas janelas no quinto andar. O bairro é principalmente residencial, mas estou a três quarteirões da Knez Mihailova, uma longa rua para pedestres, cheia de lojas e restaurantes. Além disto, do outro lado do parque, na beira do rio, está a famosa Beton Hala (Parede de Concreto), uma série de armazéns industriais transformados em restaurantes sofisticados.

Vocês devem ter percebido que eu escrevo Beograd e não Belgrado. É porque na palavra original não existe L. Beograd significa Cidade Branca em sérvio.

A confluência dos rios vista desde Kalemegdan.
Nikola Tesla, inventor pop star, é o herói nacional por aqui. Tem o Aeroporto Nikola Tesla, tem a Avenida Nikola Tesla, o rosto dele está na nota de cem dinares, e vemos camisetas do Tesla por todos os lados. E tem também o Museu Nikola Tesla, com suas invenções e centenas de livros, fotografias, as roupas que ele usava, e até uma urna esférica contendo suas cinzas.
Nikola Tesla
Também visitei outros museus, claro. O Museu Nacional da Sérvia é muito interessante. No andar térreo, há uma exposição de artefatos da pré-história até o Império Romano. Os dois andares seguintes contêm uma grande coleção de arte, local e do estrangeiro. Eles têm Bosch, Canaletto, Renoir, Monet, van Gogh, Gauguin, Picasso, e vários outros artistas famosos. O Museu de Arte Contemporânea tem somente obras sérvias e é bem atraente, especialmente o edifício criado pelos arquitetos Ivan Antić e Ivanka Raspopović. O Museu da Iugoslávia exibe objetos da época em que Eslovênia, Croácia, Sérvia, Bósnia, Kosovo, Montenegro, e Macedônia eram um só país. Logo ao lado do museu temos a Kuća Cveća (Casa das Flores), local onde está enterrado o Josip Broz Tito, o homem que manteve, com mão de ferro, todos esses países juntos. Também visitei o Museu de Ciência e Tecnologia, o Museu do Automóvel, o Museu do Chocolate, a Residência da Princesa Ljubica, e um par de igrejas cristãs ortodoxas, o Templo de São Sava e a Igreja de São Alexandre Nevski.
Museu de Arte Contemporânea
Não aprendi a falar sérvio, só umas expressões básicas como zdravo (olá), hvala (obrigado), dobro jutro (bom dia) e laku noć (boa noite), mas quase todos aqui falam inglês. O pouco que lembrei do alfabeto cirílico, da minha experiência na Bulgária e na Macedônia, ajudou bastante. Eu gosto de ver como eles escrevem os nomes estrangeiros.
Starbucks
Marx, Freud, e Einstein

E a comida?

O que eu mais comi aqui foi o tradicional ćevapi (pronuncia-se "chevapi"): bolinhos de carne moída grelhados, geralmente carne de vaca mas às vezes também porco ou ovelha. Acho que nunca entrei num restaurante que não tivesse isso no menu. Normalmente é servido com tomate e cebola, e com kajmaku (uma espécie de requeijão sérvio), e por vezes também com pomfrits (batatas fritas).

Outros bons pratos que comi em Beograd: mućkalica (pronuncia-se "muchkalitsa") é um ensopado de porco com cogumelos, bacon, paprika, e cebola, servido numa cumbuca feita de pão; pljeskavica (pronuncia-se "plieskavitsa") é a versão sérvia do hamburger, servido com cebola picada e pomfrits; krsmanović (pronuncia-se "krismanovich") é um filé de porco enrolado e recheado com presunto e queijo, servido com cogumelos e molho de pimentão demi-glace.

O vinho sérvio que eu experimentei foi o Prokupac (pronuncia-se "prokupaz"), mas para o meu gosto é muito leve e sem taninos. Então tenho bebido o Vranec da Macedônia, que também é popular aqui.

E outros passeios?

Visitei alguns lugares não muito longe de Beograd. O mais impressionante foi a Fortaleza de Golubac, um belo castelo medieval encravado na margem do Danúbio, na fronteira com a România. Na mesma viagem fui ao Lepenski Vir, um sítio arqueológico datado entre 9500 and 7200 BCE (a melhor parte foram as esculturas quase lovecraftianas).

Fortaleza de Golubac
Fui a Novi Sad, que pareceu pequena e provinciana para ser o segundo maior município da Sérvia (aproximadamente 350,000 habitantes). A vista da cidade a partir da Fortaleza Petrovaradin, do outro lado do rio, é bacana. Na mesma viagem, passei por Sremski Karlovci, uma cidadezinha (aproximadamente 8,750 habitantes) com importância histórica por ter sido o local do congresso onde terminaram oficialmente as hostilidades entre o Império Otomano e a Liga Santa dos Balcãs. A razão principal da visita foi uma degustação na vinícola Vinum, que produz o vinho fortificado Bermet. Bom, mas com demasiadas especiarias para o meu gosto, especialmente cravo, que deixa um sabor amargo. Um turista texano que estava por lá comprou a garrafa mais cara de vinho branco espumante e disse para a gerente que ia beber misturado com suco de laranja. Ele ficou horrorizada.

Em outra viagem, fui a Mokra Gora para pegar o trem Šargan 8, um percurso de 15.4 km a 30km/h e através de 20 túneis, a parte mais difícil de construir da ferrovia entre Beograd e Sarajevo durante a Primeira Grande Guerra. Não muito longe de lá, visitei Kustendorf, também conhecida como Drvengrad (Cidade de Madeira), uma vila tradicional sérvia construída pelo Emir Kusturica para seu filme A Vida é um Milagre (que é péssimo, apesar dos prêmios).
Šargan 8
Também fui a Zemun, que tecnicamente é parte de Beograd mas fica tão longe de onde eu moro que parece outra cidade. Especialmente porque eu fui e voltei andando, num total de 22 km. É uma área bem diferente do resto de Beograd, e até 1934 era seu próprio município e parte do Império Austro-Húngaro (tudo do lado de lá do Rio Sava era Áustria-Hungria, e deste lado ficava o Império Otomano). Tive um belo almoço por lá, olhando para o Danúbio, e depois fui visitar a Torre Gardoš, construída em 1896, de onde se tem uma bela vista do rio.
Almoço na beira do Danúbio.

E depois de Beograd?

Depois de três meses nos Balcãs, amanhã me mudo para New York. Mas isso, claro, é uma história para depois.

Até breve!

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