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Abril 2022
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Três meses em Lisboa
Lisboa
é uma cidade bonita. Ruas estreitas, sinuosas, de paralelepípedos
centenários. Edifícios antigos e coloridos, muitos cobertos de azulejos,
com portas e janelas pequeninas, e roupa estendida a secar. Eu moro
numa das minhas regiões preferidas, o Jardim do Príncipe Real, na
esquina da Travessa do Abarracamento de Peniche com a Rua do Século.
Quando houve o grande terremoto em 1755 e grande parte de Lisboa foi
destruída, o Marquês de Pombal, na época Secretário de Estado (mais
tarde seria Primeiro Ministro), mandou vir da cidade de Peniche tropas
do exército para ajudar na reconstrução e na manutenção da ordem, e os
soldados montaram acampamento no alto desta colina, dando origem ao nome
da travessa onde agora eu estou acampado. O Século era um jornal
publicado desde 1880, sediado no Palácio dos Viscondes de Lançada, que
até hoje está na rua que foi batizada com o nome do jornal. Aqui em
Lisboa é assim, quase todas as ruas tem uma rica história.
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Bacalhau, bacalhau, bacalhau
Come-
se muito bem em Lisboa. A atração principal são os frutos do mar, mas há
muita variedade de carnes também. Já comi frango, pato, peru, porco,
vitela, veado, e javali. O prato mais representativo, claro, é o
bacalhau, com um número surpreendente de variações. Para listar só os
dez primeiros que comi: bacalhau à Brás (o meu preferido), bacalhau com
natas, bacalhau com natas e agrião, bacalhau à Gomes de Sá, bacalhau à
Zé do Pipo, meia desfeita de bacalhau com grão de bico, pastelinhos de
bacalhau com arroz de tomate, pataniscas de bacalhau com arroz de
feijão, bacalhau a Lagareiro com batatas a murro, e bacalhau à João do
Buraco.
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E os museus?
Claro
que já fiz as minhas expedições aos museus e monumentos históricos da
cidade. Vou fazer um exercício de brevidade e mencionar somente os três
que mais gostei e o meu quadro preferido em cada um.
O Museu Calouste Gulbenkian tem uma coleção que vai da arte do Egito
antigo aos pintores pré-rafaelitas. Entre tanta coisa fica difícil
escolher, mas acho que o quadro que mais me encanta ali é Quillebeuf, Mouth of the Seine, de 1833, do William Turner, com todos seus elementos em ascensão, ondas, nuvens, pássaros.
No Museu Nacional de Arte Antiga a escolha é fácil. A grande estrela do museu é As Tentações de Santo Antão, feito pelo Hieronymus Bosch por volta de 1500. É o companheiro de seu quadro mais famoso, O Jardim das Delícias Terrenas
(que está no Museo del Prado em Madrid), com imagens tão alucinadas e
tão imaginativas que sugerem o surrealismo com uns quatro séculos de
antecedência.
O Museu Coleção Berardo tem uma coleção de arte moderna e contemporânea
riquíssima, com todos aqueles artistas que eu gosto, desde os mais
famosos como Salvador Dalí ou Piet Mondrian até os menos conhecidos do
grande público mas igualmente bons como Josef Albers ou El Lissitzky.
Aqui a minha escolha vai para um quadro vigoroso do Pablo Picasso, Femme dans un Fauteuil (métamorphose), de 1929. Eu não conhecia, e fiquei cativado pela composição e pelas cores.
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E depois de Lisboa?
Esta
mensagem está sendo enviada do aeroporto de Munique, onde estou
esperando meu voo para Sofia, capital da Bulgaria, meu lar pelos
próximos dois meses. Não só não entendo búlgaro mas tampouco sei ler o
alfabeto cirílico. Vai ser divertido. Do skoro! ("até breve", em
búlgaro).
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