Diário da Megalópole
   
03abr98

N Musa Inquietante um ameno passeio que me levou da avenida Estados Unidos à avenida Europa (Não são ótimos os nomes dos lugares de Sampa? A rua onde fica o meu modesto apartamento, por exemplo, liga o Paraíso à Liberdade.), acabei aportando no agradável MuBE, Museu Brasileiro da Escultura, onde comprei o ingresso número 1001 para a exposição do italiano Giorgio De Chirico (1888-1978).

Sendo um museu de esculturas, evidentemente havia muitas delas na exposição. Mas confesso que não me chamaram a atenção tanto quanto as pinturas que as acompanhavam. As estatuetas de bronze escurecido eram muito bonitas, já o brilho excessivo dos dourados e prateados de suas companheiras não me conseguiram seduzir. As telas, por outro lado, destacavam-se do conjunto com seus manequins sem rosto em paisagens de perspectiva surreal e seus cavalos bem traçados em ambientes bucolicamente mitológicos (ou seriam mitologicamente bucólicos?).

A série que o próprio artista batizou de arte metafísica (rótulo que, dependendo do ponto de vista, tanto pode ser um pleonasmo como uma antítese) não só encanta com suas áridas paisagens (e aqueles onipresentes trenzinhos e chaminés ao fundo, revelando uma certa influência do futurismo), mas também incomoda. Os anônimos personagens, as sombras que sugerem sem revelar, a arquitetura desconfortavelmente deserta. Sedução e inquietude simultâneas, como toda arte deveria ter.
   


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